27.3.10

Conversando com Claudio Vicentino

Com o apoio da Escola Mario Quintana e da Editora Scipione no fim da tarde de ontem tive a oportunidade de, juntamente com os colegas Luciano e Laerte, ter um bate papo com o autor Claudio Vicentino. Para quem não conhece, Vicentino é um dos grandes autores de livro didático para ensino fundamental e médio no Brasil, livros sobretudo, de História. O bate papo teve também a participação das coordenadoras de ensino.
Basicamente falamos do História e do Ensino de História com a nova historiografia. Conversamos também sobre os efeitos dessa mudança de conteúdo, ou melhor, de visões de conteúdo sobre a sala de aula e sobre os vestibulares e o ENEM. Vicentino foi a todo tempo cordial e simples, um homem flexível e apaixonado pelo seu trabalho. Contou suas experiências de conversas com professores de todo o Brasil e das dificuldades que os mesmos tinham em relação a baixa remuneração e da falta de preparo.
Mas o que vai mudar? Bom, como dito, basicamente o conteúdo não foi alterado. Ou seja, ainda ensinarei sobre os terrores da inquisição e da colonização na América, sobre a vegonha da ditadura no Brasil e sobre os gregos e suas guerras. O que mudou foi a forma de abordagem! Mais do que nunca a História se distância dos grandes nomes e procura a vida dos pequenos, da micro-história que revele espectos antes esquecidos. Nesse sentido a história da Ásia e da África ganham mais destaques, os povos indígenas também são mais visíveis e mais nítidos, bem como os escravos, os imigrantes, as mulheres e quase todos "os esquecidos" pela história tradicional. Outra grande diferença é a identidade da disciplina, que andava perdida há alguns anos! Se antes a História era uma matéria para "se entender do passado e se previnir do futuro" agora ela é encarada como um conjunto de conhecimentos destinados a discussão do presente. Isso significa que o professor estará necessariamente ligado a reflexão com a atualidade.
Em termos historioráficos, as idéias de autoridade negociada invadem o campo histórico e botam por chão os tópicos do pacto colonial, do absolutismo e da resistência a escravidão. Por fim, falamos dos impactos dessas desconstruções. É algo que ainda vai levar tempo e que certamente será doloroso a professores e alunos que encontrarão uma maior complexidade nos estudos de História e de Geografia.

18.3.10

não era pra ser assim!

Toda promessa vem acompanhada com uma série de anceios e com uma boa dose de probabilidades. Probabilidades de coisas darem certo e de coisas darem errado. E isso não excessão ao novo ENEM e ao processo de de seleção, o SISU.
Acredito que boa parte das coisas que poderiam sair erradas com todo esse processo aconteceram. Uma prova foi vazada, adiaram a data, pessoas não conseguiram se increver, centenas perderam o horário da prova, houve um grnade número de desistências, milhoões foram gastos com todo o processo, o sistema pela internet falhou, errou, manipulou, vagas ficaram em aberto, muitas incertezas, dúvidas e frustrações perpassaram pelos cadidatos e suas famílias e parece que uma bagunça sem precedentes apoderou-se de todo o processo. Enfim, definitivamente não era para ser assim, desse modo, tão caótico!
Quando o governo propôs o uso do ENEM como um sistema de seleção universal para todo o país e como uma forma de acesso ao ensino superior eu fiquei muito feliz! Sinceramente acredito que o vestibular, nos moldes que o tinhamos era um sistema cruel e imparcial, e esperava (com muita anciedade) que o ENEM pudesse valorizar tudo o que o vestibular claramente despreza: o raciocínio, a capacidade interpretativa e crítica dos concorrentes. E a primeira prova indicava isso! Uma nítida diminuição dos conhecimentos quantitativos e uma orientação para valores de leitura e análise textual, de reflexão e imaginação. Mas a prova aplicada ficou aquém da promessa, como também todo o processo. Na verdade houveram poucas coisas que despertassem mais algum agrado pelo ENEM.
Podemos tentar ver coisas boas, e certamente elas existiram! Muitas pessoas vão cursar universidades em locais diferentes, gerando uma modificação significativa na economia de muitos lugares. Essa cidade é um desses lugares. Pelotas sempre recebeu pessoas de fora, da região ou de Macapá, para cursarem a UFPel. Ela vem e vão, mas participam substancialmente da economia da cidade, trazendo dinheiro e movimentando o mercado imobiliário da cidade. No entanto, o mercado imobiliário pelotense tem poucos privilegiados e ainda são poucas as famílias que se arriscam a explorarem aquele quarto vago ou até mesmo a montarem um pensão. Tudo isso acompanhado das notícias de expansão da universidade, da criação de novos campi e cursos e sobretudo da geração de mais vagas.
Um dos debates mais incriveis gerados elo novo ENEM está diretamente relacionado a isso: os de fora roubam vagas dos da região! E isso não é um questionamento. No senso comum e nas conversas de roda, esse pensamento é certo e definitivo, estamos perdendo a nossa universidade! É claro que as pessoas que vem de fora estão, de alguma forma, amparados pelas famílias, e claramente são famílias com condições mínimas de sustentar seus filhos estudando em uma cidade, ou seja, os mais ricos prevalecem com mais vantagens.
Enfim, diante de todos esses dados e certezas parece impossível que alguém ainda espere melhoras ou mesmo defenda um sistema como o ENEM para as futuras seleções! Bom, eu ainda defendo!
Antes de pararem de ler esse post, deixem-me esclarecer quais razões ainda me fazerm prefeir o ENEM ao saudoso (para a maioria) vestibular de costume. Em primeiro lugar vem a prova! Ainda credito que o desenvolvimentos das competências é a melhor forma de avaliação e desenvolvimento dos estudantes, e espero ardentemente que os elaboradores percebam isto. Em segundo lugar por que tenho desse discurso finalizado de "eles vão roubar nossas vagas", isso me soa muito parecido com "os nordestinos roubam nosso emprego em São Paulo", o que é nítidamente um apelo preconceituoso e perigoso, mas importante de ser discutido. Por fim, acho que sou esperançoso e magoado. Esperançoso por um sistema de acesso mais democrático (que é a idéia primordial do ENEM) e magoado com o vestibular tão tendecioso, fraco, quantitativo e até mesmo fraudulento (em alguns casos). Ainda aguardo a promessa...